PRELÚDIO:
CARTA DE SINDARA.
Creio que você vai achar no
mínimo interessante, depois de tudo o que aconteceu, enviar-lhe esta carta. Não
quero justificar-me através dela, sei como pensa e qual sentimento tem por mim
- talvez raiva, ódio. Embora eu sinta sua falta, isso não interessa, mas é
importante que você entenda os fatos.
A história é mais ampla. Não se
trata de mim, de você, do seu pai, da disputa de poder ou dos reinos. É algo
infinitamente maior. Então para alguns pode ser irrelevante falar de fatos que
ocorreram antes do meu nascimento, afinal o que sou, quem sou, o poder e
respeito que adquiri em meu país e o que fiz pela minha nação são coisas às
quais as pessoas dão mais crédito.
Falar do passado, dos fantasmas,
daqueles que se foram e daqueles que ainda estão aqui nas sombras, num primeiro
momento, pode parecer supérfluo, mas acredite, não é. A história deste mundo e
minha história se entrelaçam com a de alguns personagens desta narrativa.
Talvez não acredite em mim, ou pense que estou tramando algo, pois sei que a
esta altura está se perguntando: Mas por
que escrever a você?
Talvez por ter confiado em ti e
principalmente por amá-lo, mas a verdade é que não sei, e outra pergunta vai se
fazer. São tantas coisas na minha cabeça e ainda me preocupo com a maneira como
você irá receber tudo, mas a principal pergunta que deve fazer é: Como ela sabe tudo isso?
A resposta é simples: eu fui atrás
do olho do tempo. Meu objetivo era ver o futuro, mas ele somente mostrava o
passado; o futuro ainda não estava escrito e dependia de infinitas decisões do
presente. Não me importei com este fato e apenas olhei através do tempo.
Você não tem noção do quão louco foi
quando anos, vidas e eras se passaram em questão de minutos. Isso fixa na mente
como as sanguessugas do pântano de Odro grudam em suas vítimas. Aquilo exigiu
de mim um esforço sobre-humano, transitei entre a sanidade e a loucura, pois eu
vi, senti, chorei e gritei com estas pessoas. Eu era todas elas e ao mesmo
tempo era Sindara.
O olho do tempo, além de um artefato
mágico poderoso, é um arquivo de tudo que ocorreu, e trabalha o passado de
acordo com o usuário, assim eu vi e senti todas as ações e fatos que levaram ao
dia de hoje. Houve necessidade de parar e escrever.
Tanta dor, sofrimento e mortes
desnecessários e para quê?
Como lhe disse antes, o que se passa
aconteceu alguns anos antes do meu nascimento. Tenho que resumir décadas de
fatos em poucas palavras, portanto perdoe-me se não estiver sendo bem
detalhista; faltaram algumas partes, porque de tudo o que foi visto, muita
coisa está se perdendo em minha mente. Talvez ao começar a ler você não entenda
uma coisa ou outra, mas saiba que está tudo bem amarrado e ao final da
narrativa você certamente entenderá.
Todos sabemos que o véu que separa
este mundo de sua camada inferior, Agonia, foi rompido muitos milênios atrás.
Os magos que o fizeram acharam que estavam se aproximando da morada dos deuses,
mas quando viram onde estavam, batizaram o lugar com este nome, que faz
referência ao suspiro final antes da morte. Tentaram inutilmente fechá-lo, mas
já era tarde e muitas criaturas romperam para o nosso mundo, entre elas orcs,
trolls, sombrios e espíritos.
Até aqui nenhuma novidade, aliás
você também sabe que vinte anos antes do meu nascimento, os centauros em sua
sede de poder e vendo seu declínio perante as raças existentes, soberbos
acreditaram que com seus conhecimentos em magia conseguiriam romper o véu,
entrar em Agonia, absorver seu poder
mágico e ainda fechar definitivamente os portais que levavam até lá. O quanto
foram tolos ou ingênuos não podemos saber, mas a verdade é que milhares deles
marcharam para Soronto, uma vila no reino de Damatia onde o véu é mais tênue, e
adentraram em Agonia.
Uma aliança se formou entre elfos, humanos,
anões e outras raças que, liderados por Círdan, marcharam até Damatia. Houve
guerra, mas a aliança venceu a batalha em nosso mundo e alguns magos elfos e
humanos infiltraram-se em Agonia, mas o pior já tinha sido feito. Os centauros
em Agonia fizeram uma tolice e abriram um portal para uma camada inferior do
véu. Quando Círdan chegou, eles tentavam, em vão, usar sua magia para fechar o
portal. Centenas - talvez milhares - estavam mortos por algo que queria sair da
camada inferior. A aliança e o restante dos centauros focaram naquele ser
amorfo que desesperadamente tentava se libertar.
Círdan utilizou uma magia antiga de
aprisionamento, semelhante à que aprisionou a deusa negra, passada de geração
em geração pela família real.
Houve o sacrifício de muitos
centauros para ajudá-lo, enquanto o selo aos poucos tomava forma. O poder das
sombras não quis se render facilmente e atacou a todos da forma que pôde, e não
houve um que não tenha sentido seu ataque físico ou mental. Quando Círdan
terminou o selo, apenas ele e outras quatro pessoas ainda estavam vivas: três
magas, Selene, Morlila e Tania, e seu guarda-costas Tanor. Uma raça inteira
tinha sido praticamente extinta. Soronto foi rebatizada como o cemitério de
centauros.
Selene e Tania passaram para o nosso
mundo, mas quando foi a vez de Morlila, ela fugiu para dentro de Agonia. Ela
estava louca e Círdan teve que persegui-la, pois a amava e ela esperava um
filho seu.
Dentro de Agonia, o mal a consumiu e
seu poder estava crescendo. Uma parte daquela criatura das trevas que tentou
escapar estava dentro dela. Círdan teve que lhe tirar a vida, não antes dela
decepar-lhe o braço esquerdo. Quando voltou ao seu mundo, estava mutilado
física e espiritualmente.
Agora, meu amor, quero dar um
pequeno pulo na narrativa que se segue para um ano e meio antes do meu
nascimento, ou seja, vinte anos atrás. Assim, aos poucos, mesmo em guerra
enviar-lhe-ei estas cartas, para que entenda como nos separamos e o que se
aproxima.
Sindara
CAPÍTULO 1
ALFRIS E SELENE
Aag olhava os céus e durante alguns segundos, a visão das três
luas de Ifíanor pareceu-lhe distante e melancólica, seus olhos lacrimejaram por
instantes e ele não soube dizer o porquê, apenas sentia uma inquietude tomar o
seu corpo como se sacudisse sua alma e mantivesse o restante inerte, há poucos
minutos estava em casa com seu irmão mais velho Alfris, deixou a filha pequena
Lisa com sua esposa Lessa, agora ambos,
chegavam perto dos portões do castelo de Dankar, assumiria o seu posto
na muralha, seu irmão era o chefe da guarda noturna e das defesas de Dankar, foi
ele quem indicou Aag para trabalhar lá, depois que a pequena Lisa nasceu,
rapidamente era um dos melhores guerreiros e havia descoberto ser capaz de
manipular um ou outro tipo de magia, - Está
no sangue era o que dizia o irmão.
Depois que Alfris se apresentou,
os grandes portões de madeira se
abriram, a muralha exterior era de rocha pura,
formando um grande arco de aproximadamente uns trezentos metros, se
encontrando com a montanha nas duas extremidades, acima dos portões uma ponte levava até o outro arco, este
invertido suas pontas voltadas para o pátio principal, eram como duas
ferraduras, viradas uma para a outra, a menor propiciava aos arqueiros uma boa
vantagem sobre quem invadisse, sem mencionar o fato de que a ponte que unia os
dois arcos podia ser derrubada, por um sistema hidráulico.
Atrás do segundo arco estava a fortaleza
que era cercada por uma grande montanha impenetrável devido as suas rochas cortantes
e caminhos cheios de armadilhas naturais, o castelo de Dankar pertencente ao
reino de Vescra, tinha um único objetivo guardar um dos seis talismãs de
Ifíanor, protegido pela feiticeira Selene.
O Castelo em contraste com as grande muralhas
que possuía era pequeno, encontrava-se na mesma altura destas, um outro pátio
interno após a segunda muralha conduzia ou a casa de armas à esquerda ou ao
grande silo que servia para armazenar suprimentos para todos ali a direita.
Havia uma ponte que saia do segundo arco até os portões da fortaleza, se um
invasor passasse pelos portões do castelo seguiria por um corredor, atrás deste
ficava a câmara dos magos e logo após o salão do talismã onde Selene
descansava.
Aag não sabia o porquê, mas se
lembrou destes detalhes quando adentrou os portões, lembrou-se também da passagem
secreta rente ao muro esquerdo da segunda muralha, havia um mecanismo que abria
uma pequena cavidade e era fechada por dentro, o caminho conduzia por dentro da
muralha até um pequeno aposento atrás do salão do talismã lá havia um outro
caminho dentro da montanha até a floresta perto do vilarejo mais próximo, onde
já haviam guardas esperando no caso da
feiticeira precisar fugir.
Somente ele, seu irmão, o chefe
da guarda diurna e a feiticeira sabiam desta passagem, nem mesmo os seis magos tinham
este conhecimento.
Selene era uma das magas mais
poderosas de Ifíanor, havia recebido a missão de proteger o a talismã pelo
próprio Círdan, o presidente do Alto Conselho das raças. A verdade é que Selene é a maior defesa do castelo, nos somos
contratempos. Pensou Aag.
Alfris sempre lhe protegeu e
temia que se os portões fossem tomados Aag sucumbisse, portanto havia lhe
ensinado uma forma de escapar, atráves da passagem dentro da muralha. Aag
sempre soube das intenções do irmão, mesmo este sendo o mais natural possível,
o disfarce das palavras não o engaram, mas ele nada disse. Os tempos eram sombrios dizia o irmão, desde
o momento em que o centauros fizeram o inconcebível, todos os reinos estavam em
alerta, Dankar não podia ser diferente. Dankar era quase um Estado autônomo em
relação a Vescra, as tensões políticas fervilhavam e qualquer desculpa serviria
para uma revolta ou para mais opressão.
- Comando da guarda está sendo
repassado a Alfris o comandante noturno. Gritou o capitão do turno matutino. Parece uma sentença ao invés de um encargo.
Os homens que estavam em formação foram dispensados e os recém chegados
ocuparam seus lugares.
- Está tudo tranquilo, mais uma
noite calma meu irmão. Disse Alfris.
- Está quietude porém me aflige.
- Você com seus temores e crendices,
relaxe homem e vista sua armadura.
Aag limitou-se a gesticular com o
rosto. Estranhamente a vontade de ver a família o assolou, se pedir para sair Alfris não irá me perdoar, nem mesmo os homens que
comando, acharão que sou um tolo e não estou preparado.
Alfris colocou o elmo e seus
olhos tocaram preocupados a face do irmão.
- Ei Aag, algo está o
incomodando? Aag puxou sutilmente o irmão pelo braço e afastou-o dos demais que
se preparavam para pegar seu turno.
- Alfris estou com um
pressentimento ruim hoje, não consigo parar de pensar nas meninas.
- Não fique assim, justo hoje que
tenho boas notícias para você. Aag com um olhar desinteressado limitou-se a sacudir
os ombros.
- Aag a indicação que eu fiz a
Feiticeira para que inicie seu treinamento de mago no templo da Luz em Physhara
foi aceita, ela concordou que precisa de mais uns dois oficiais aqui bem
preparados e você será um dos escolhidos. Aag não sabia como reagir, pois a
aflição que o inquietava embora tenha diminuído, ainda incomodava, mas esforçou-se
para demonstrar alegria, o máximo que fez foi estampar um sorriso forçado e
apático. Se não consigo ficar longe de
minha família que está a poucos quilômetros daqui imagine num centro de
treinamento seletivo e exigente com o templo da luz?
- Alfris eu agradeço, mas não sei
se estou à altura disto, existem outros aqui mais bem preparados e que merecem
mais do que eu.
- Não seja modesto Aag sei que
você é novo, tem talento e coragem só precisa ser lapidado, e você é forte está
no nosso sangue. Novamente aquela frase,
pensou Aag.
- Mas e as meninas, como ficarão?
-Já coloquei a feiticeira a par
de sua situação ela irá arrumar hospedagens dentro do castelo e dará a Lessa um
cargo junto as serviçais, enquanto você estiver fora, inclusive ela deseja muito
conversar contigo amanhã. Alfris o abraçou e Aag sorriu mais relaxado.
- Tem certeza que não iremos dar
trabalho? Lisa ainda é uma criança.
- A feiticeira disse que não será
nenhum incomodo e eu estou fazendo o que acho melhor para o meu irmão, afinal você
e as meninas são a única família que tenho, além disso, ela me disse que já
iria tomar esta decisão, quer eu indicando você ou não, reconhece que você tem
talento e as qualidades necessárias para o posto. Agora coloque um sorriso em
seu rosto e se apronte.
Enquanto Aag vestia o restante da
armadura e se armava, pensava nas palavras do irmão, você é forte, tem talento e coragem, está no sangue, quero tanto que estas palavras sejam
verdades, mas que droga, hoje definitivamente não dá, por que? Por que esta
aflição me consome aos poucos?
Olhou para o irmão que parecia
invulnerável tamanha segurança e confiança, seu porte colossal e sua grande
altura parecia transportar alguém inabalável e invencível, o efeito que Alfris
causava nas pessoas que o viam pela primeira vez era de temor, sua presença
intimidava, era robusto e moreno, cabelos curtos, tinha cerca de uns cento e
vinte quilos, nos seus um metro e noventa, resultado disso tudo era uma feição
forte e decidida.
Aag com seu corpo menor parecia
um vaso delicado perto do irmão, embora também fosse forte, seus traços eram
muito parecidos. Talvez a ideia de ir
para o templo não seja ruim, talvez fique como ele, neste momento um
pensamento inquietante o incomodou – isso
nunca vai acontecer , foi o suficiente para que a aflição que antes o
incomodava como pequenas marteladas, se tornasse mil sinos tocando de uma vez
em sua mente, tentou se concentrar e outro pensamento cortou sua mente – ao menos vai fazer algo especial , era
uma voz que não era sua, durante toda a vida escutou vozes, pressentimentos que
vez o outra o incomodavam, mas eram raros, eram sobre alguém que iria machucar,
mudanças climáticas, pessoas que teriam filhos, mas hoje aquilo estava
exponenciado, os pressentimentos, a aflição, os sentimentos pareciam uma
multidão de gritos de alerta, ele sentia que algo ruim iria acontecer.
Em momento nenhum as vozes
disseram, apenas insinuaram, mas Aag morreria naquela noite.
***
Selene estava em transe havia
alguns minutos, era costume fazer aquele ritual todos os dias, seu corpo loiro
estava nu deitado em torno de um círculo
e três sacerdotisas erguiam suas mãos
formando um triangulo fora do círculo, elas estavam vestidas com trajes brancos
e cantavam cânticos, o ritmo das vozes
crescia e pareciam se aprofundar, como se estivessem declarando algo profano,
as três vozes seguiam como se fossem uma
e não havia mais nada na sala do ritual, quanto mais a entonação dos
cânticos ficava forte, mais Selene se contorcia até que suas mãos começaram a
brilhar e uma luz irradiou e como um raio atingiu as mãos da sacerdotisa que
estava em pé atrás dela, mas nada lhe causando, por alguns segundos aquela luz azulada ficou
somente ali, até que se espalhou para as mãos das outras duas fechando o
triangulo e seus olhos brilharam, os cânticos cessaram, e Selene viu.
Ela viu a frente do castelo e a planície
que descia por uns cinco quilômetros até a floresta a esquerda e as grandes montanhas
mais além, esta era mais uma vantagem para o castelo qualquer inimigo que se aproximasse
era visto de longe, mas ela não viu nenhum inimigo, mas havia algo lá ela sabia
que não era algo bom.
Sentiu que o talismã mesmo
estando em seu salão queria lhe mostrar algo, sabia dentro de si que ele queria
lhe mostrar o futuro, mas era como ver através de vidros grossos e opacos, viu
uma chuva de fogo, soldados mortos e quando seus olhos olharam para o salão do
talismã este não estava mais lá, olhou para as montanhas e havia um homem e um
dragão e quando tentou ver mais encontrou resistência, atrás dos olhos verdes e
conhecidos daquele homem havia sombras algo feito de maldade, uma dor
alucinante percorreu cada centímetro de seu corpo, o homem a encarava, mas não
era ele que temia, mas a outra coisa, algo que a aguardava. Selene não
conseguiu se manter no transe, estava perdendo para a força mental de seu
inimigo, aquilo não era comum, mas estava acontecendo, despertou rapidamente
gemeu de dor, aquela batalha ela perdeu, mas outra começava.
***
Alfris percorreu o topo de toda
muralha, cumprimentando cada um dos soldados que ali estavam, cerca de oitenta,
havia no castelo um efetivo total duzentos guerreiros, mais a metade disto em
prontidão, e seis magos além da própria feiticeira, todos sabiam que em caso de
combate a missão era defender a vida dela juntamente com o talismã.
Ao chegar na parte de cima dos
portões, Aag o acompanhava, era como um braço direito, seus olhos vez ou outra
divisavam o horizonte a sua direita não via nada de diferente, apenas sentia a
brisa que soprava ao longe vinda das montanhas, parecia que nenhum mal se
avizinhava, embora ele sentisse que as trevas aos poucos deitariam seu manto
frio nas aragens de Vescra, era mais um de seus pressentimentos, o mal às vezes
lhe cantava os ouvidos e ele nada podia fazer, lembrou-se da visões de guerra
que tivera durante um dos seus sonhos e como ficou preocupado, após duas
noites sem sono havia procurado Selene,
ela quis saber mais, ele lhe confiou que guerras e mortes se aproximavam e não
era só isso, um pesadelo inconcebível partiria de Vescra para o mundo, ela
jurou que não contaria nada a seu irmão, e lhe pediu um favor;
- Aag seu futuro é nebuloso para
mim, sei que suas ações influenciarão Alfris e que um dia precisarei de toda
sua coragem e força, posso contar com você? Aag estranhou a época que uma
pessoa com os poderes de Selene lhe pedisse ajuda, mas não negou.
- Feiticeira, só desejo lhe
servir bem e posso falar o mesmo de meu irmão.
- Eu sei Aag. Eu sei. O olhar
dela naquela ocasião pareceu distante e perdido, mas havia algo mais, havia tristeza
que ela soube mascarar.
Seu irmão foi conferir o silo e
terminar outras atribuições de seu cargo. O muro cobria metade de seu corpo, a
sua direita há alguns metros um pequena torre de observação acomodava alguns
arqueiros a esquerda a segunda torre possuía o sino que era tocado em caso de
ataque.
Na quarta vez que Aag olhou
apreensivo para a frente do castelo, os homens ficaram incomodados, Henry um
dos guardas o procurou oferecendo uma maça.
- Quer uma?
- Não obrigado Henry.
- Já que não quer vou comê-la.
- Fique à vontade.
- O que o aflige?
- Deu para perceber?
- Eu e aos demais, esta
inquietação gera mais inquietação.
- Não queria causar transtornos.
- Eu sei, mas me diga o que é.
- Não sei Henry, algo não está
bem. Henry o tocou nos ombros, apontou para a frente e disse.
- Não há nada lá.
- Eu sei e é isso que me
incomoda.
- Alguns dizem que você vê e ouve
coisas é verdade?
- Sim.
- O que vê?
- Não estou vendo nada somente
tenho esta sensação estranha.
- Aag vou pedir aos homens que
fiquem em prontidão, podemos simular um treino, algo para descarregar a sua
tensão e dos soldados, e aposto que isto o deixará menos nervoso.
-É uma boa ideia, mas não vamos
incomoda-los. Isto é coisa minha e se os homens souberem que estão treinando quando
deveriam estar só de vigília perderei o moral com eles.
- Você é quem sabe Aag, mas se
precisar me fale. Vou comentar com meus homens de confiança e pedir a eles que
dediquem mais atenção na noite de hoje.
- Faço isso por mim. Ele virou as
costas e antes que ele desse mais alguns passos, Aag o chamou, Henry olhou para
o rosto surpreso de Aag que apontava com o dedo e dizia
- Olhe aquilo.
Henry não viu nada e apenas se
sentiu perdido, pois não sabia o que procurar, imaginou que o amigo estava
enlouquecendo.
- A nossa esquerda no alto, não é
fumaça subindo. Ele observou toda planície e seus olhos percorreram cada ponto
da descida, pois se havia fumaça que ele não estava vendo deveria haver uma
fogueira, mas não viu nada. Aag apontou para a Lua Crisis, que era das três
luas de Ifíanor a que estava mais baixa embora fosse a menor e menos iluminada,
Henry olhou e por instantes não viu nada até que pode ver fumaça subindo graças
à luz da lua, era pouca, seus olhos desceram até o ponto em que deveria haver
uma fogueira, mas não viram nada, ele olhou mais detidamente e pode ver outra
torrente de fumaça subindo há alguns metros da primeira, apontou para ela e com
a garganta seca disse:
- Olha outra ali Aag.
- Estou vendo, é melhor tocarmos
o sino o que acha?
- Acho muito estranho uma fumaça
sem fogo.
- Vai lá Henry.
- Tudo bem, Aag.
Quando Henry começou a caminhar
alguns gritos chamaram sua atenção, olhou para trás e viu o silo em chamas,
fogo dentro e fora do castelo, aquilo inquietou ainda mais Aag.
***
Selene, cobriu rapidamente o seu
corpo e seus cabelos loiros caíram sobre uma manta branca, as sacerdotisas,
olhavam atordoadas para a rapidez com que ela se vestia sua armadura,
preocupadas aguardavam ordens;
- Chamem Alfris aqui agora, e
mandem os magos auxiliarem Aag no que precisar imediatamente. Uma das
sacerdotisas confusa disse:
- Mas Mestra o que você viu, não
está acontecendo nada. Está tudo calmo lá fora.
- Faça o que eu digo. O tom de
sua voz não dava margem para questionamentos, a sacerdotisa correu para fazer o
que lhe fora ordenado, quando, uma outra ia sair para lhe acompanhar, Selene
ordenou;
- As demais fiquem aqui vão me
ajudar com seus poderes a ativar o talismã.
- O que? gritou uma das
sacerdotisas. Mas ele nunca ... suas palavras foram cortadas pelo olhar frio e
incisivo de Selene.
- Preparem-se um inimigo está se
aproximando, temos pouco tempo.
***
Tanor contemplava o castelo de
Dankar a sua frente, o vento batia na sua longa capa e seus cabelos negros
sacudiam, ele observava e não era observado apenas aguardando um sinal, seu
contato dentro do castelo colocaria fogo em breve no silo. É hora de partir com ou sem sinal. Pensou.
Olhou para trás e seu pequeno grupo estava ali
reunido, os ciclopes irmãos Andrû e Andril com seus quase quatro metros municiavam
as duas catapultas, Alessandra e os outros dois magos mantinham a cortina de
invisibilidade, que permitia que não fossem vistos e se aproximassem, nem o
poder da feiticeira fora capaz de nota-los. Os anões Ygor e Groom eram seus auxiliares
diretos junto com o necromancer Jouthan.
Groom dava as últimas instruções
para seus comandados cerca de cem entre soldados e arqueiros.
Jouthan estava de frente para uma pedra de uns
dois metros, concentrando-se na rocha
suas mãos estavam envoltas de uma aura cinza, se reclinou e riscou o
chão como um pêndulo, primeiro com sua mão direita depois com a esquerda,
afastou-se e a rocha começou a tomar forma, ela tremia ,
algo queria sair, estava moldando-se de dentro para fora, a rocha vibrava como
se fosse explodir e os pássaros que estavam em uma arvore próxima voaram
espantados, a coisa então foi se acalmando e ele pode ver que ela parecia com
algo humano, era um golem de pedra, um gigante formado de rocha, sem vida,
apenas controlado por seu criador, isso
sempre me assusta não importa quantas vezes vejo.
Alessandra se aproximou de Tanor, seus cabelos
loiros curtos a altura da nuca, irradiavam mais a sua beleza e seus grandes
olhos esmeraldas parecendo presentes dados ao seus rosto fino e branco
destacavam seu corpo franzino. Tanor pensou como ela poderia enganar muitos que
a julgassem pela aparência, mas era uma das magas guerreiras mais poderosas de
todo o planeta.
- Senhor está na hora.
- Obrigado Alessandra. Tanor deu
um assobio alto e então um dragão branco desceu voando até eles era muito maior
que o maior dos touros da região de Dankar, mas ainda assim era jovem pensou,
tinha pouco mais de cem anos, possuía longas presas e uma escama branca
brilhante e bastante resistente, a couraça já havia se consolidado, o animal se
apoiava nas quatro patas, era mais alto que os ciclopes, abaixou-se e estendeu
a cabeça até os braços de Tanor como um cão procurando o afago do dono,
acariciou o animal e este
correspondeu havia ali um vínculo muito
forte, nascido de uma promessa de sangue, talvez por isso Sef quase não falava
nada.
- Já estou pronto, mas antes...
Tanor gritou:
- Ygor e Groom venham comigo. O
anão que estava coberto ora por sua armadura ou pela longa barba negra segurou
dois machados e se aproximou dele, este era Ygor, Groom era idêntico a Ygor,
eram gêmeos.
- Podem montar. O anões olharam
desconfiados. Tanor riu. Sef não irá ataca-los, ambos ainda sem muita confiança
entreolharam-se e com cautela excessiva subiram, o animal deu um pequena refogueada,
que os incomodou, mas depois relaxou. Tanor olhou diretamente para os olhos
acolhedores de Alessandra e disse:
- Pode começar. Ela ergueu as
duas mãos, esticou as palmas depois aproximou-as da boca como se fosse orar e
soprou, uma pequena névoa ficou pairando e ela empurrou na direção dos três,
Quando Tanor montou no dragão ela pronunciou:
- OFINEM
ACHARUM INVISIBLE. Eles ficaram invisíveis aos olhos dos demais, mas Tanor,
Ygor e Sef podiam vê-los era o truque da barreira sendo usado neles. Ela sorriu
e caminhou na direção dele, estendeu sua boca e para quem olhassem parecia que
estava beijando o ar, mas Tanor a correspondia e afagava seu pescoço, ela se
afastou e disse:
- Agora vá que a magia distante
de mim só vai durar uns dez minutos.
- É mais que suficiente. Ele
disse algo incompreensível no ouvido do dragão e este ergueu voo, eles se
encaminhavam para as costas dos castelo, rumo a montanha, antes Tanor viu seu
arqueiros ascendendo a ponta de suas flechas, Jouthan criando um outro golem,
só que este era de fogo e quando sobrevoou o pátio do castelo viu o silo em
chamas, tudo corre como o previsto, pensou.
***
Alfris perseguiu um vulto
misterioso que ele viu saindo correndo do silo, antes deu ordens para apagarem
o fogo, quando chegou ao final do pátio
próximo a sala de armas, o vulto parou estava encoberto por um capuz, já havia
percebido que se tratava de uma mulher, ergueu sua espada e o fraco brilho da
lua Crisis foi suficiente para iluminar
não só a arma como todo o seu elmo, a única coisa visível em seu rosto eram
seus olhos, a mulher à frente não
hesitou, sacou uma pequena adaga, Alfris ficou imóvel, mas esta adaga é idêntica à que dei a Lessa, aquilo o inquietou.
- Onde você conseguiu esta adaga?
A estranha permaneceu em silêncio analisando o homem à sua frente e sua postura
defensiva repentinamente cedeu e ela o interpelou:
- É você Alfris? Para tristeza
dele a voz era familiar, ao longe pode escutar alguém dizer – alguém está
atacando, mas sua mente estava focada apenas naquela figura misteriosa a sua
frente e em seu pensamento Não pode ser
ela, ele retirou o seu elmo jogou-o no chão e disse;
- Sou eu mesmo, por que fez isso
Lessa? A mulher retirou seu capuz e ele pode comprovar a verdade de suas
palavras, aquilo só podia ser um pesadelo pensava, mas ela o fitava com um
olhar de resignação, havia algo a mais, percebeu que aquilo no olhar dela,
raras as vezes em sua vida já encontrará, era uma devoção rara, ela olhava para
ele e parecia ver através de sua armadura, de seu corpo, da carne ia além e
eles se sentiu nu, algo que não iria
compreender e que palavras não explicariam.
- Por que tinha de ser feito,
você nunca entenderia.
- Tente me explicar, por
enquanto, devo prendê-la, mas sei que a feiticeira poderia perdoa-la.
- Sabe Alfris eu amo Aag e ele
nunca entenderia meus motivos, portanto não deixei que ele saiba o que você viu
hoje.
- Infelizmente eu não posso, você
o colocou em perigo e a todos nós.
- Alfris a morte quando certa,
sempre vem com um olhar conhecido e com julgamento.
- Ninguém precisa morrer Lessa.
Ela sorriu e ergueu novamente a
adaga com a mão direita segurando firme seu punho, ele não se mobilizou não
estava disposto a lutar contra ela, mas num gesto rápido, houve uma ruptura, um
grito e sangue, a mulher caiu de joelhos, Alfris correu para socorre-la, com
uma certa facilidade retirou a lamina da cintura dela, ela havia cravado forte
e rasgado seu ventre, o sangue jorrava e as mãos dele se confundiam em meio aos
órgãos dela.
- Por que você fez isso Lessa?
Por que? Que loucura foi esta? As lágrimas caiam no rosto quase sem vida dela.
- Não diga a Aag que fui eu, ele
nunca vai entender, mas eu tinha que fazer. Ela cuspia sangue enquanto falava.
- Não fale mais nada respondeu
Alfris, mas não era preciso, pois seus grandes olhos negros fecharam para o
mundo, ele a carregou nos braços e caminhou até o salão de armas, mesmo sabendo
que estavam sendo atacados.
***
Aag não teve tempo de olhar para
o silo, pois viu várias flechas em chamas, riscos flamejantes que cortavam o
céu negro em sua direção, teve tempo e agilidade suficientes para se esquivar,
ergueu seu escudo enquanto esperava pelo próximo ataque, tudo estava
acontecendo muito rápido, os homens haviam sido pegos de surpresa, estavam sem
iniciativa, alguns foram atingidos pelas flechas, outros auxiliavam os feridos
e mais alguns corriam para apagar o fogo no silo, não conseguiam ver que tinham
sido atacados, um rápido olhar para a planície e nada, não via ninguém,
imaginava vária coisas, mas não sabia dar ordem aos pensamentos, Henri estava a
sua frente atordoado e incrédulo, o mesmo pensamento lhe passava pela sua
cabeça, o que os atacara, mas um
outro pensamento venceu a dúvida inicial, ele se ergueu e gritou para o
companheiro;
- Henry os sinos. Este como se
acordasse de um sonho assimilou a ordem do amigo e correu em direção a torre
central, Aag olhou para o horizonte buscando uma resposta, seria magia, mas como alguém criaria tantas flechas e com que
finalidade, não podia ser isso, pensou em invisibilidade, mas, para que alguém
conseguisse ocultar tantas pessoas e portanto tempo, afinal era um longo caminho até os portões do
castelo, era preciso um mago muito poderoso, muito mais que a feiticeira
Selene, e Aag não achava que tal pessoa existisse. Seus pensamentos foram
interrompidos por outra saraivada de flechas que vinham, ergueu o escudo novamente
e se defendeu, outros homens faziam o mesmo e os sinos agora estavam tocando
estridentes.
Quando olhou novamente para
frente, viu quatro enormes pedras virem na direção do castelo arremessadas
certamente por uma catapulta, mas aquilo não o preocupava, mas sim a direção de
uma delas que ia de encontro a torre onde Henry estava, Aag não teve tempo de
gritar, ela atingiu seu alvo com eficiência destruindo boa parte da torre, ele
só pode ver um dos sinos caindo junto com o corpo de seu amigo no pátio do
castelo. Não teve tempo de chorar ou se lamentar.
Aag, chamou alguns homens e
ordenou que os arqueiros se preparassem;
- Mas vamos atirar aonde? em que?
Disse um dos arqueiros.
- Vamos atirar no mesmo ângulo em
que as flechas estão vindo, certamente os atiradores deles estão sendo
ocultados por magia. Agora preparem-se.
Espalhem a minha ordem por toda a linha de defesa da muralha, vamos
atirar a vontade.
Os homens estenderam seus arcos e
quando um nova chuva de flechas vieram em sua direção, eles já haviam atirado, se
defenderam e depois olharam como se esperassem uma resposta, um dos homens
falou:
- Não acertamos nada senhor.
- Acertamos sim olhem e procurem as
nossas flechas. Os homens olharam e nada viram.
- Não há nada lá senhor.
- Mas é isto mesmo, elas estão
acobertadas por magia, existe um exército lá se escondendo de nós, e estão
invisíveis e se assim estão fazendo é porque não tem condições de enfrentarem
nosso exército em condições reais, portanto disparem mais. Os homens tomados por uma nova
disposição dispararam, mais confiantes. E quando outra saraivada de flechas
veio em direção a eles já estavam mais preparados, Aag se preocupou foi com os
pedregulhos certamente viriam de novo, e mal tinha pensado nisto viu vários deles
vindo, um deles vinha em sua direção.
-
Protejam-se homens. Aag se abaixou preparando-se para o impacto era a única
coisa que podia fazer, mas nada ocorreu e quando levantou os olhos a enorme
pedra flutuava alguns metros acima de sua cabeça ele buscou por explicações e
viu os seis magos na ponte que unia o castelo a muralha de frente,
manipulando-a como uma marionete com fios invisíveis, e jogando a frente do
castelo.
Aag chamou quatro de seus homens e
correu até os magos. Emir era o chefe dos magos, ele olhava para a planície
como se medisse palmo a palmo o campo a sua frente, ergueu suas mãos, um raio
circundou os seus dois braços ao mesmo tempo em que disse SIRIUS LITHIUM,
disparou na direção do campo, mas o raio foi interceptado por um outro que saiu
da planície como se brotasse do chão.
- Temos alguns magos poderosos ali, Aag
vou precisar da ajuda de vocês e será perigoso.
- Emir desde que consiga romper esta
barreira de invisibilidade terá toda a ajuda.
- Sim, mas eles irão nos atacar
quando tentarmos desfazer a magia deles, preciso que nos proteja até lá.
- Homens façam uma barreira à frente
deles com seus escudos, Kurt, busque mais seis homens e tirem estes corpos
daqui, peça aos arqueiros que atirem no local de onde veio o raio.
Emir se concentrava enquanto os
demais magos o rodeavam, aguardavam pelos reforços de Kurt, o que Emir pede é praticamente um suicídio e
onde está Alfris? Deveria estar aqui nos comandando. Pensou Aag.
Os soldados vinham de todas as
partes, inclusive do pátio, parecia que o fogo estava sendo contido, mas nestes
momento duas coisas preocuparam Aag, primeiro uma bola de fogo vinha de encontro ao lado oposto onde ele
estava, atingiria o pátio, mas o segundo fato este sim, despertou medo nele, ouviu
um canto sombrio e profano, algo que nenhum ser deveria escutar, embora fosse
ilógico, aquilo parecia o sussurar da morte.
Olhou para o lado e viu os homens
inquietos e nervosos, tremiam, tinha os pelos ouriçados, a voz vinha de todos
os lugares ao mesmo tempo, Aag paralisou por uns segundos. Precisou de uma
certa força de vontade para se recompor e quando olhou para o pátio onde o sino
e o corpo de seu amigo Henry se encontravam, viu o corpo dele se mexendo,
tremendo, como se ainda estivesse vivo, as mãos se cruzaram rasgando umas às
outras até o esqueleto e em segundos não
havia mais carne ou sangue, o corpo foi ficando de pé, a pele, os tecidos, músculos caiam como se
estivesse presos aos ossos por uma cola fraca, apenas o esqueleto com dois
globos oculares restou e aquele ser que desafiava a morte e a compreensão
vomitado de seu próprio corpo morto olhou para seus restos como se aquilo nada
significasse, correu a mão pelo cinto e pegou a espada, um soldado que estava
no pátio assistia a tudo incrédulo, foi quando aquela caveira correu em sua
direção erguendo a espada para atingi-lo e após mata-lo procurou outro. Aag pode jurar que ela havia dado uma
risada. Um soldado gritou para ele descer.
- Não posso tenho que defender os magos.
Olhou para os cadáveres na muralha e o mesmo processo se repetia, eles ganhavam
vida. Aag gritou:
- Ataquem as caveiras homens, temos
um necromancer por perto, rapidamente os soldados lutavam com os novos inimigos
enquanto os magos por alguns instantes ficaram indefesos, não havia escudos,
nada qualquer flecha poderia atingi-los, mas não foi uma flecha que veio em sua
direção foi outro raio vinha do nada acima do chão, mas Emir levantou uma
barreira de luz azul que os defendeu.
Cerca de cinquenta homens estavam nas muralhas
enfrentando o que quer que aparecesse, o efeito surpresa do ataque já não era
tão efetivo mais, outros tantos estavam no pátio enfrentando as caveiras vivas,
pois elas tombavam com uma espadada e logo se erguiam, seu corpo ser
recompunha, havia luta em todo o castelo e Aag ainda não vira um inimigo vivo
sequer. Se aquilo era uma invasão, já estava tornando-se previsível e os homens
embora ocupados com esse novo empecilho, encontravam-se preparados para uma ataque
direto. Passados alguns segundos a estranha voz cessou e guerreiros que
tombavam não voltavam a vida como caveiras.
- Isto está longe de ser o fim
homens, continuem em guarda.
De repente uma explosão no portão
central, Dois gigantes um de pedra e um de fogo, tinham entre 8 a 10 metros,
grandes braços, eram golens criados através de magia, Já havia visto Emir criar um uma vez, mas que merda não era nem a
metade do tamanho daqueles, o de fogo diferenciava do outro nas chamas que
saiam das frestas de seu corpo, ambos entraram arrancando o restante do portão
e atacando os soldados no pátio e novamente Aag escutou aquela melodia que dava
vida aos mortos, aquela som profano e antinatural outras caveiras surgiam de cadáveres, maculando
aqueles corpos e junto a isso uma nova saraivada de flechas vinha em direção ao
castelo, foi quando sentiu alguém tocar seu ombro esquerdo, seu corpo se
projetou para atacar, mas se conteve a tempo era Alfris.
***
Tanor não teve dificuldades em
entrar no castelo pela parte de cima, seu dragão alçou voo esperando um sinal
para voltar e pegar seu mestre, ele e seus dois companheiros anões encontraram
pouca resistência, um a um os soldados que apareciam eram vítimas dos machados
rápidos dos pequenos.
Quando o trio chegou ao salão do
talismã este se encontrava vazia, Tanor olhou em volta e como se farejasse algo
invisível, trançava as mãos no ar, procurando algo que o olfato deixava
escapar, os anões olhavam aquilo indiferentes, mesmo que estivessem estranhando
tudo, não deixaram transparecer. Ele então parou e pode ver traços verdes de
energia que pairavam no ambiente, os anões não viam, mas ele firmou sua posição
e mais atento disse:
- O talismã foi ativado, tenham
cuidado, vamos procurar a feiticeira sem nos separarmos.
***
Alessandra junto com os outros dois
magos mantinham a barreira de invisibilidade firme contra a investida dos magos
do castelo e várias vezes disparavam um ou outro raio de energia em direção aos
seis, nada poderoso sabia ela que a intenção era só distrair, mas não precisou
fazê-lo por muito tempo, pois no momento em que os golens invadiram, todos no
castelo inclusive os magos detiveram suas atenções nos dois seres. Com o
comando que lhe era natural ordenou aos arqueiros:
- Atirem mais duas vezes e vamos
embora, desarmem as catapultas e levem tudo o que pode nos entregar.
Andrû olhou desconfiado, mas nada
disse, ao contrário de Cássio o chefe dos soldados:
- Minha senhora, o senhor Tanor
ainda está lá e se eu mandar os homens invadirem, podemos tomar o castelo
facilmente.
- Cássio, não é nossa missão tomar o
castelo, não queremos que ninguém saiba quem somos, não por agora. Quanto à
Tanor ele saíra da castelo tão facilmente como entrou, os homens de Dankar já
tem preocupações demais com os golens e mortos-vivos, não há necessidade de
sacrificarmos ninguém, a melhor vitória é aquela que não precisa ser travada.
O chefe dos guardas não disse mais
nada a Alessandra, apenas sinalizou para que seus homens se preparassem para se
retirar. E cinco minutos depois eles estavam saindo da frente do castelo, da
mesma forma com que entraram sem serem notados, deixando para trás somente os
golens, a morte e a dúvida.
***
Uma caveira atacou Aag antes que
ele entrasse pela passagem secreta ao lado do muro, o sangue frio de Alfris
perante os dois gigantes ainda estava em sua memória só teve tempo de dizer:
- Aag vá atrás da feiticeira. Ele está
te protegendo, mas de outra forma, disse a voz em sua mente. Correu pelos
corredores estreitos da passagem, e em sua cabeça as vozes disparavam e gritavam: vida, morte, salvar, morrer, lutar,
aquelas palavras poderiam até fazer sentido, mas ele não queria pensar nisso
agora, antes ficava durante noites parado escrevendo o que elas tinham para
dizer agora não perderia um segundo.
Ao final do corredor ativou a
passagem que dava para os aposentos da feiticeira, se seguisse reto sairia no
vilarejo, mas tinha que entrar e encontra-la, escutou vozes, entrou na pequena
sala anterior ao salão, por trás de uma falsa biblioteca, não havia ninguém, as
vozes vinham do salão principal. Correu como se sua vida dependesse daquilo,
com a espada em punho, abriu a porta e viu a feiticeira e três de suas
auxiliares na frente do salão na parte oposta onde se encontrava, do outro lado
dois anões e um homem estavam a quatro ou cinco metros, haviam descido as
escadas havia corpos de soldados nelas, os dois pequenos olhavam para ele como
se já tivessem decidido seu destino, enquanto o outro homem nem mesmo se virou,
concentrava-se nas mulheres à frente.
***
Os dois gigantes destruíam tudo com o que
deparavam e o que estava em chamas ainda era mais perigoso, porque vez ou outra
soprava um fogo quase tão poderoso quanto um dragão, alguns soldados conseguiam
se esquivar outros não. Alfris, gritou para que Emir atacasse os golens, mas
este respondeu que estava quase conseguindo quebrar a barreira de
invisibilidade.
Alfris estranhou o fato de Kurt e
alguns homens estarem com os escudos chamuscados, mas não havia baixas ali,
apenas caveiras ao chão, aparentemente quando surgia uma, alguns soldados saiam
de trás dos magos e lutavam com elas, jogando as suas cabeças no pátio e aquilo
fazia com que não se levantassem de novo
- Não importa, se não detivermos
aquelas duas bestas, o castelo sucumbirá. Arrume uma forma de detê-los, nós
vamos distraí-los. Kurt você e os outros vão lá para baixo peguem os machados.
- Senhor Alfris estaremos
suscetíveis aos ataques mágicos deles se nos concentrarmos nos golens. Retruco
Emir.
- É um risco que iremos correr.
- Tenho uma ideia chefe Alfris,
disse Emir.
- Diga.
- Eu acho que consigo reduzir o
tamanho deles pela metade só preciso de alguns minutos.
- Faça isso. Alfris alternava entre
dar ordens e se defender, o pátio tinha se tornado uma arena.
Os magos do alto da murada dispararam
esferas e mais esferas de energia nos golens quando estes iam revidar eram
atacados por machados e lanças dos homens que estavam embaixo. As caveiras uma
a uma eram separadas de suas cabeças e não retornavam.
***
Ygor ergueu os olhos e fitando Aag
disse:
- Achei que não teríamos mais
diversão Groom, uma vez que anões não gostam de lutar com mulheres.
Aag não se deixava intimidar
pelas palavras hostis do anão levantou sua espada e preocupou-se com seu
objetivo. Não demorou um segundo para que dois grandes machados começassem a
dançar na direção do jovem guerreiro ele correu e saltou por cima dos dois, não
tomou conhecimento e correu, passando ao lado
de Tanor erguendo a espada para atingi-lo, foi quando sentiu seu corpo
ser arremessado ao lado da parede, ele não viu nem como, nem quando o homem fez
aquilo, foi muito rápido, mas aquele golpe invisível o acertou com muita força,
ergueu-se aos poucos, os anões olharam incrédulos, por alguns segundos se detiveram, pensando
que estavam morto, mas ficaram surpresos ao verem que ele foi se arrastando em
direção as sacerdotisas que o ajudaram a se levantar. Os anões se posicionavam
para atacar, durante alguns segundos ninguém disse nada.
O silêncio ainda permanecia uma
muralha instransponível naquela sala. E agora somente duas pessoas pareciam
aptas a quebra-lo. Tanor com um tom debochado, mas colérico:
- Parece que até com o talismã
ativado você tem medo Selene, ou será que ficou fraca. Selene observava a
tensão no rosto de Tanor, seus poderes estranhamente estavam sendo anulados por
ele.
- Você nunca foi capaz de me
superar, porque hoje seria diferente? O que quer com o talismã?
- Você é a guardiã dele e nem
sabe toda a sua potencialidade, mas isto não importa, porque além de conseguir
o que eu vim buscar, vou poder lhe retribuir o que fez a minha irmã.
Duas coisas aconteceram ao mesmo tempo. Os
anões investiram contra Aag e Tanor ficou encoberto com uma aura azul.
***
Quando os golens ficaram menores
e recuaram, Alfris ordenou que os homens atacassem as pernas de ambos e os
magos atacaram as cabeças.
- Vou mostrar a estes invasores
que nós também sabemos alguns truques mágicos.
Alfris pegou um grande martelo de batalha, segurou com a mão direita, enquanto a mão
esquerda parecia ungi-lo, ao mesmo tempo ele pronunciava algumas palavras
mágicas, o martelo vibrou em sua mão, ele sorriu e correu por toda murada até
que pulou e acertou a cabeça do golem de pedra, o martelo reverberou, como se
fosse o eco de centenas de marretadas, a onda de ar jogou as caveiras que
restavam no chão, enquanto rachava o golem em pedaços, até mesmo o gigante em
chamas recuou com o onda sonora que se propagou, Alfris embora fosse corpulento
e forte, caiu graciosamente no chão, tal qual um elfo.
Os segundos que levaram para que
o golem de fogo recuasse e retomasse a investida foram suficientes, para que
ele corresse na direção do inimigo e o acertasse na perna, novamente o martelo
ecoou com aquela fusão de força e magia e estilhaçou o perna direita do
monstro, Emir e os demais magos lançaram uma rajada de magia conjunta que
destruiu o golem, fazendo o desfazer em pequenas pedras flamejantes, que logo
se apagaram.
Os homens comemoravam impressionados com as
ações de Alfris, não há tempo de
comemorar. Pensou:
-Não acabou homens, quero todos em
formação de combate agora, vamos sair do castelo e enfrentar quem quer que
esteja nos atacando. Rapidamente os soldados estava lado a lado com espadas e
escudos prontos e marcharam para fora do castelo.
***
Os machados dos anões subiam e
desciam em sincronia e Aag tinha dificuldades em atacar e defender ao mesmo
tempo. Tanor investia com raios mágicos contra Selene, uma das feiticeiras que
a ajudava já havia caído ao chão. Aag preocupava-se com elas, mas aquele
confronto mágico não era para ele, além dos anões estarem o atacando
rapidamente não sabia muita coisa de magia. Groom ria a cada golpe que
disparava contra Aag, este se desviava com desenvoltura, os dois anões pareciam
se divertir, Tanor disse:
-Embora o talismã aumente o poder
mágico do portador consideravelmente, você parece estar se contendo Selene, ou
melhor, acho que não é capaz de me tocar. Havia deboche em sua voz.
- Você precisa de truques para
anular os meus poderes, de quem é esta sombra atrás de você? Ele não respondeu,
Selene estranhava pois qualquer coisa que fazia era facilmente repelida, havia
tentado dois ataques mentais e uma coisa se colocava entre ela e ele, era
estranho, não via nenhuma outra presença ali, quando conseguia fazer ataques
mágicos eram fracos e débeis, até sua velocidade era menor, Tanor nunca foi capaz de me derrotar, mas agora faz isso facilmente, mesmo com o
talismã multiplicando meus poderes estou acuada.
- Você não conhece o poder do
Talismã Tanor.
-Você não tem o direito de portá-lo,
não depois do que fez a Tania.
-Então é este o motivo de estar
atacando meu castelo e as pessoas aqui.
- Se fosse por isto eu viria sozinho
enfrenta-la, não vim aqui para me vingar, mas as circunstâncias cominaram os
meus objetivos com a vontade de lhe retribuir o que fez a ela. Você e Círdan se
aliaram para matá-la eu deveria ter visto isto quando saímos de Agonia. Ao
terminar esta frase Tanor, bateu as palmas das mãos e a energia azul brilhante
que saiu de seu corpo disparou rapidamente contra as sacerdotisas, o talismã
emitiu uma luz e conseguiu repelir o ataque a Selene, mas as outras duas
auxiliares caíram ao chão mortas.
- Pelo visto você sabe utilizar a
poder defensivo do talismã, mas não creio que ele irá protege-la por muito
tempo. O homem começou a proferir
algumas palavras, a feiticeira
aproveitou o instante e lançou duas esferas vermelhas de pura energia
que se dispersaram antes de chegar a Tanor, Selene olhou incrédula. Tenho que descobrir o que esta protegendo e
só existe uma forma, um ataque direto a sua alma.
O homem proferia suas palavras,
indiferente a ela e os demais, Selene soube que tinha pouco tempo, sua alma
projetou-se para atacar a dele, no momento do golpe uma sombra surgiu saindo de
dentro dele, negra e maligna defendeu o ataque e sorriu para ela, o restante de
seu rosto era amorfo, tenho que recuar e
sair daqui, qualquer coisa que fizer será inútil. Selene suava
aterrorizada.
- Temos que sair daqui Aag, não vou
poder conter o poder dele. Aag recuou alguns passos, e se posicionou entre ela,
os anões e atrás deles Tanor, que continuava a proferir palavras que Aag não
conseguia compreender.
- Fuja pela passagem eu vou ganhar
tempo, em breve meu irmão estará aqui.
-Não posso ir sem você Aag.
- Não se preocupe vou logo atrás, -
mas ele não foi, nem mesmo ela saiu dali, a magia de Tanor não permitia.
Groom correu para ataca-lo com
ferocidade, ele deteve o ataque, com sua espada, derrubando-o logo após com uma
rasteira, o anão não pareceu sentir o tombo, pois rapidamente aproveitando a
investida do irmão se recompôs. Aag lutava com os dois sem medo, sua agilidade
compensava o fato de estar em desvantagem, Merda,
se fosse apenas um, pensou.
Selene disse algumas palavras em um
língua que Aag não conhecia e o Talismã brilhou intensamente, no momento em que
Tanor abria seus olhos e sua sombra se projetava maior atrás dele, a aura azul
ficou negra e começou a se movimentar com rapidez, seus braços se ergueram e
ele conjurou uma grande esfera daquela energia negra que prendeu Selene, a
feiticeira se debatia como se estivesse sem fôlego, depois tudo aconteceu muito
rápido.
Aag
se interpôs, e a explosão de energia o arremessou a uns quatro metros, Selene
atacou Tanor com magia, mas este repeliu tão facilmente, que pareceu não se
esforçar, então ele a projetou na parede, seu corpo ficou flutuando preso, como
se pulseiras estivessem crucificando-a, mas nada visível a prendia, era apenas
magia, com um gesto de mão ele a jogou no chão e com outro o talismã foi
arrancado de seus pescoço para a sua mão esquerda. Caminhou a passos lentos até a feiticeira,
enquanto os anões aguardavam.
***
Alfris corria para o castelo,
aquele ataque somente poderia ter sido um engodo, não havia ninguém na
planície, apenas vestígios de fogueira e flechas ao chão, ninguém estava ali,
nenhum homem, não havia nem sangue, seus arqueiros não atingiram o inimigo.
Agora seus pensamentos estavam em Aag, Lessa e Selene.
***
- O que minha irmã disse antes
que você a matasse? Perguntou Tanor.
- Sua irmã havia se transformado
em um monstro e eu fui misericordiosa com ela, apenas isso e ela agradeceu, foi
o desejo dela.
- Você mente, mas eu não vou ser
misericordioso com você, como foi com ela, eu lhe trouxe um presente e você
sentirá o mesmo ódio que senti ao ser traído por você e Círdan.
Tanor com gesto de mão fez com
que o corpo da feiticeira se levantasse até que ficasse na altura do seu,
caminhou mais alguns passos, ela ainda estava presa e não conseguia se mover
por causa da magia dele, o homem então
inclinou o pescoço para o lado, quase tocando o ombro direito, olhou-a nos
olhos, eram os olhos dele que a olhavam, mas ela sentia que aquela outra coisa
que tinha lhe sorrido era quem realmente a fitava sedenta por Selene.
Tanor não se deteve quando Aag gritou e correu
em sua direção, continuou ali olhando e aquilo assustava Selene, era a primeira
vez que sentia medo em combate, não temia a morte, mas o que estava ali oculto,
isso ela temia.
Groom colocou-se entre Tanor e Aag, este conseguiu se desviar e cravar
uma adaga na perna do anão, o pequeno gritou de dor, mas o golpe de Ygor foi
rápido e o machado o penetrou no peito, enquanto ele caia, viu uma coisa negra
sair da boca de Tanor, aquilo parecia rastejar no ar, era uma sombra, era
maléfico e aos poucos entrava na boca de Selene e no meio de suas pernas, eles
se beijaram.
Selene sentia-se violentada, mas
de uma forma mais profunda e hedionda, sua alma é que estava aceitando aquela
coisa que a invadia lentamente em todos cantos de seu corpo, queria vomitar,
mas estava paralisada, o mal adentrava como se deliciando de cada parte que
tocava, se pudesse morrer teria feito, na medida em que aquela sombra ganhava
seu corpo, injetava nela um sentimento, aquilo havia sido criado com ódio, uma
magia inominável, odiou Tanor, odiou suas sacerdotisas, odiou seu pai e até mesmo Aag que caiu para lhe
proteger, mas odiou mais ainda o fato de ter tido um orgasmo quando aquela
magia negra terminou de invadi-la entre suas pernas, quando Tanor terminou, sua
fisionomia mudou, era como se fosse seu antigo amigo, havia lágrimas em seus
olhos e ele disse:
- Desculpe, mas foi preciso, é
por algo maior que nós dois. – Não houve tempo para responder, queria
perguntar, por que?
Ela caiu ao lado de Aag, seu
corpo se contorcia, tentando rejeitar o corpo estranho, lutando, até que a
coisa a venceu e ela desmaiou. Tanor cambaleou antes de se levantar.
Alfris chegou a tempo de ver a
feiticeira tombar, correu para atacar o anão Groom, mesmo com a perna machucada
colocou-se ao lado do gêmeo, ambos se defendiam do ataque feroz e agressivo de
Alfris, Groom ria, Ygor não.
Tanor utilizando novamente sua
magia e com um gesto de braço primeiramente fez Alfris flutuar, depois o
arremessou contra a parede, o impacto foi forte o suficiente para rachar o seu
elmo no meio, o homem ainda assim tentou se levantar mas seus inimigos se
retiravam, morreria se investisse novamente contra ele, e tinha que se
preocupar com a feiticeira e com seu irmão.
Com dificuldade ele caminhou para
o corpo de Aag queimado pela magia e cortado do lado direito pelo machado, o
jovem engasgava com o próprio sangue, mas fez um esforço para cuspir e dizer
algo.
- Alfris me escute, ele segurou o
braço do irmão que o tinha colocado no seu colo.
- Não precisa dizer nada Aag. As
lágrimas escorriam pelos olhos de Alfris.
- É importante, você tem que proteger Selene, o mal que foi
desperto pode retornar, a criança profetizada vai nascer, o selo será quebrado.
Alfris não via sentindo nas
palavras do irmão, mas as memorizava.
-
Irmão cuide de minha filha para nós, Lisa terá um papel importante. O garoto
lutava para pronunciar cada palavra, o sangue jorrava de seu ferimento, não
havia cura para aquilo e Alfris sabia, queria que o irmão parasse de falar e
morresse em paz, mas ele não desejava isso, escutava e olhava para o irmão
sabendo que iria perde-lo, ficou imaginando se Aag sabia que Lessa havia
morrido, por causa de sua última frase, como se lesse seus pensamentos Aag
disse:
- Eu sei Alfris, não se preocupe.
Tenho um presente para você. Apertou o braço do irmão Alfris sentiu um choque
vindo de seu irmão e neste instante Aag morreu, Alfris sentiu muita dor pela
perda, mas sentiu ódio de sua incapacidade de salvá-lo e jurou vingança contra os
anões e Tanor, olhou para o corpo morto do irmão e o ergueu no colo, Selene já
havia acordado e chorava, outros soldados entravam na sala, deu ordem para que
cuidassem dela, levou o irmão até o corpo da esposa, iria enterrá-los juntos,
lado a lado, e jurou ali que o mal que fizera isso a sua família iria pagar,
especialmente o anão, cada respiração dele neste mundo seria uma ofensa à
existência de Alfris.